Selic em 9% ao fim de 2024? Veja possíveis consequências na economia e para os investidores

No relatório mais recente do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), nesta segunda-feira (22), houve um ajuste positivo nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024.

A mediana para o crescimento da atividade econômica em 2024 foi revisada ligeiramente para cima, de 1,59% para 1,60%, em comparação com os 1,52% registrados há um mês.

Segundo Volnei Eyng, CEO da Multiplike, uma das dez maiores gestoras multissacado e multicedente e securitizadoras de crédito privado do país, “mesmo que o cenário atual seja de redução da taxa Selic, este ano, investimentos em renda fixa ainda continuam bastante interessantes, pois muitos ativos rendem 1% ao mês para os investidores”.

 

Neste caso, mesmo a Selic em um fechamento a 9%, no final do ano, ainda sim, os investidores terão resultados expressivos com baixo risco. Para 2024, o economista ressalta alguns fatores que devem gerar instabilidade.

“Neste ano possuímos alguns desafios. Temos uma agenda política lotada de eleições no mundo todo, inclusive no Brasil. Automaticamente, o investidor procura a renda fixa, como uma forma de se proteger. Mesmo com pressão inflacionária, o Banco Central, ano passado, fechou dentro da meta. Isso mostra que a política monetária está bem conduzida. Por exemplo, o IPCA previsto para esse ano está em 3,86%, número menor que o da semana passada, que era de 3,87%”, observa.

Eyng chama atenção para as revisões positivas nas previsões do PIB, dentro do Focus.

“Em três semanas já tivemos esse aumento que deixa o mercado animado”, diz. O economista cita uma projeção positiva por um fechamento neste ano de 2,20%.

Quanto ao ano de 2025, o relatório manteve a projeção de crescimento do PIB em 2%, consistente com as estimativas de um mês atrás.

Mesmo ao levar em conta as 50 respostas mais recentes nos últimos cinco dias úteis, a previsão para o PIB em 2025 permanece inalterada, em estabilidade nas expectativas.

No que diz respeito a 2026, destaca-se que a mediana das projeções continuou firme em 2% pela 24ª semana consecutiva.

O boletim ainda trouxe perspectivas para 2027, e indicou que a estimativa de crescimento permanece inalterada em 2% há vinte e seis semanas, uma sinalização de uma expectativa de estabilidade no cenário econômico de médio prazo.

 

Como os juros a 9% ditariam os rumos do consumo e da economia?


A notícia seria positiva para o mercado financeiro como um todo, pois a flexibilidade nos financiamentos e parcelas, ao tornar o crédito mais acessível, contribui para aceleração da atividade econômica e consumo, explica Eyng.

“Com um mercado de trabalho ainda aquecido e a confiança dos empresários e investidores gradativamente retomada, essa medida oferece margem para que o Banco Central prossiga com o ciclo de flexibilização monetária. Essa estratégia busca atingir a meta, um controle mais efetivo da inflação e um ambiente econômico mais equilibrado”, detalha.

Com a taxa Selic a 9%, espera-se uma influência direta nos custos de crédito e financiamentos.

“Taxas de juros mais baixas tornarão o crédito mais acessível, incentivando o consumo e os investimentos. Isso beneficia empresas e consumidores que buscam empréstimos para expansão ou aquisição de bens. Além disso, deve aquecer um dos principais setores que empregam a mão-de-obra, a construção civil, e a grande maioria dos imóveis são financiados”, complementa.

 

E como uma Selic menor influência nos investimentos?
 

Renda Fixa


A diminuição da taxa de juros impacta diretamente a rentabilidade de investimentos como títulos públicos, CDBs e outros investimentos de renda fixa.

“Em um cenário de Selic mais baixa, os rendimentos desses ativos tendem a ser menos atrativos em comparação a períodos de taxas mais elevadas. Entretanto, em uma disputa natural de mercado, as empresas, instituições financeiras e até mesmo o governo, através do Tesouro Selic, serão obrigados a entregarem rentabilidades maiores que os 100% do CDI que, até então, rendiam mais de 1% ao mês de maiores esforços”.

 

Renda Variável


A redução da taxa Selic pode contribuir para a valorização de ativos, como imóveis, fundos imobiliários e ações. Existe um histórico que mostra que, quando a Selic está mais baixa, os investimentos em renda variável tendem a ter maior valorização, justamente em função do dinheiro dos investidores que buscam maiores retornos.

Eyng cita o fluxo de capital estrangeiro como outro fator importante, uma vez que muitos consideram o Brasil como a bola da vez, “em função de faltarem opções em mercados emergentes, mas com estabilidade econômica e potencial de up side [crescimento]”.

 

Crédito


A queda da Selic automaticamente influência na redução da taxa de juros do crédito. Isso reflete automaticamente no aumento das vendas do varejo, à medida que os consumidores aproveitam condições mais favoráveis para realizar compras parceladas ou financiadas.

“A disponibilidade de crédito facilita o acesso dos consumidores a bens de maior valor, impulsionando setores como eletrodomésticos, eletrônicos, móveis e outros produtos duráveis. Comércio aquecido gera uma cadeia de efeitos, estimulando a produção, o emprego e, consequentemente, o consumo gerado por este ciclo”.

 

Construção Civil e Empregos


Com uma Taxa Selic mais baixa, Eyng relembra que já houve um avanço significativo no setor da Construção Civil, especialmente no que diz respeito à geração de empregos e ao aumento nas vendas do mercado imobiliário.

“A redução das taxas de juros torna o financiamento para a aquisição de imóveis mais acessível”.

Este cenário aquecido impulsiona a construção de novos empreendimentos, cria oportunidades de empregos diretos e indiretos na construção civil. 

 

Consumo


No ano de 2023, o consumo da população foi bastante prejudicado. A razão principal está na instabilidade política e econômica, além do grande endividamento.

Isso fez com que os trabalhadores direcionassem seus recursos para pagamentos de moradia, alimentação e transporte, e renunciassem a viagens, roupas e lazer.

“A diminuição dos juros e consequentemente o reaquecimento da economia são naturais no reflexo direto no consumo”, diz Eyng.

 

Fonte: Space Money