Selic em 11,25%: veja quanto rendem as aplicações de renda fixa e onde investir agora

O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou 2024 mantendo o ritmo de queda da taxa básica de juros, a Selic, observado em 2023. O quinto corte consecutivo de 0,50 ponto percentual (p.p.) e a indicação, no comunicado que acompanhou o anúncio da decisão nesta quarta-feira (31), de que não deve mudar a rota, levantam questionamentos no mercado sobre o rumo dos investimentos. 

Entre eles, as principais perguntas na mente dos investidores são: a renda fixa segue atraente, mesmo com os juros básicos caindo? Quais as melhores opções nessa classe de ativos? É a vez de arriscar-se na renda variável? Tem mesmo de correr mais risco para garantir maior retorno?

Para responder a essa e outras questões, merece atenção um levantamento feito pelo portal MoneYou, a pedido do InvestNews, que mostra como fica a rentabilidade dos principais valores de referência da renda fixa no ano e no mês, com a Selic agora em 11,25% ao ano. O cálculo considera a inflação projetada para os próximos 12 meses, conforme o último relatório Focus, do Banco Central. 

 

Referência  Taxa anual nominal Taxa anual real Taxa mensal Taxa mensal real
Selic 11,25% 7,07% 0,8924% 0,5712%
CDI 11,14% 6,97% 0,8841% 0,5629%
Inflação* 3,90% - - _-
80% do CDI 8,91% 4,82% 0,7140% 0,3934%
90% do CDI 10,03% 5,90% 0,7994% 0,4785%
100% do CDI 11,14% 6,97% 0,8841% 0,5629%
110% do CDI 12,25% 8,04% 0,9679% 0,6465%
120% do CDI 13,37% 9,11% 1,0511% 0,7294%
130% do CDI 14,48% 10,18% 1,1334% 0,8115%
Poupança 6,17% 2,18% 0,4999% 0,1800%

 

Para o economista Jason Vieira, responsável pelo levantamento, quando comparado aos períodos anteriores, em dezembro do ano passado, quando a Selic estava em 11,75% ao ano, o corte de meio ponto percentual não traz mudanças significativas nos retornos com a renda fixa, até porque o ritmo de queda do juro básico foi mantido. 

 

“Obviamente muda alguma coisa, há um rendimento menor, mas a renda fixa continua atraente e deve continuar assim até mais ou menos a faixa de 9% ao ano.”

— JASON VIEIRA, ECONOMISTA.


Ou seja, a Selic ainda precisa cair pouco mais de 2 pontos percentuais, e seguir nesse patamar por algum tempo, para que a renda fixa começa a deixar de ser atraente, na avaliação do economista. “No momento em que os juros se estabilizarem em baixa, pode haver um movimento em que os investimentos se distribuam de forma mais igualitária”, avalia.

 

Renda fixa: risco alto?


A leitura é de que o reinado da renda fixa não deve ser ameaçado ao longo dos próximos meses. Essa previsão leva em conta a previsão de que o Copom deve manter o plano de voo de queda da Selic até atingir a taxa de 9% ao final deste ano, conforme aponta o boletim Focus do Banco Central. Ainda assim, as opções de investimentos são variadas.

Nesse sentido, a especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, Jaqueline Kist, explica que a maior atratividade na renda fixa já ocorre quando há também maior exposição ao risco. Segundo ela, é o caso dos títulos prefixados e atrelados à inflação de prazos mais longos, ao invés de papéis pós-fixados de maior liquidez.

Além disso, Jaqueline observa que os títulos atrelados ao CDI passam a ter uma atratividade cada vez menor, à medida que os juros de dois dígitos se aproximam do fim, mesmo que não haja uma aceleração do ritmo de queda da Selic. Para ela, o BC deve manter a cautela, ainda mais após entregar a inflação na meta pela primeira vez desde a autonomia formal. 

Ou seja, o investidor não deve conseguir mais retornos a taxas vistas em 2023, destaca o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge. No entanto, se ainda assim não está disposto a correr risco, a renda fixa ainda é a melhor opção, avalia. “E melhor se for isento de imposto, como é o caso das LCIs e LCAs, entre outras”, diz. 

 

A hora da bolsa?


Em contrapartida, se o investidor tiver mais propensão a risco, Jaqueline, da Matriz Capital, alerta: já passou da hora de investir em renda variável. “A bolsa já estava atraente em 2023, quando o Ibovespa superou o CDI, puxado praticamente pelos resultados isolados de novembro e dezembro”, diz a especialista e sócio da gestora.

Aliás, esse desempenho positivo apenas na reta final do ano passado requer sangue-frio dos investidores. “Se pegar a fotografia do ano de 2023, o Ibovespa rendeu abaixo dos principais benchmarks praticamente todo o ano e só teve boa recuperação nos últimos dois meses”, pondera Jorge. 

 

Para ele, não há dúvida de que a renda variável oferece grandes oportunidades e com muitas possibilidades de maiores retornos. No entanto, há também a possibilidade de ter maior prejuízo, ressalta o especialista. “É por isso que é mais arriscado e é por isso que tem um retorno maior, o que é um pouco diferente da renda fixa”, explica o sócio da Quantzed. 

O único tipo de investimento que ele não recomenda são aqueles difíceis de serem avaliados. É o caso de algumas debêntures específicas. Ainda mais depois dos problemas contábeis envolvendo a Americanas (AMER3) e a Light (LIGT3) no crédito privado, apesar das perspectivas mais promissoras para esse mercado em 2024.

 

Bottom line


Em resumo, seja diversificando na renda fixa ou na variável, os especialistas apontam que será preciso correr mais risco para obter retornos maiores. Isso porque a taxa de juros no Brasil deve continuar relativamente elevada ainda, tanto em termos nominais, mas, principalmente, em termos reais (descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses). 

 

“Ainda é tempo de surfar na retomada da renda variável juntamente com um dos maiores juros reais do mundo na renda fixa”.

— JAQUELINE KIST, ESPECIALISTA EM MERCADO DE CAPITAIS E SÓCIA DA MATRIZ CAPITAL.


Aliás, apenas recentemente o Brasil perdeu a posição de maior pagador de juro real do mundo, ficando atrás do México, que amarga a liderança do ranking. Cálculos também feitos pelo portal MoneYou mostram que o país deve seguir como vice, após o primeiro corte da Selic em 2024, com juro real de 5,95%.

 

Fonte: InvestNews