Que o ambiente internacional foi o gatilho para o avanço cambial, isso é um fato. Mas a piora do cenário doméstico com a mudança na meta fiscal para 2025 foi a cereja do bolo para a retomada do dólar aos patamares acima dos R$ 5,20, o que já não víamos acontecer há mais de um ano, desde a crise do setor bancário nos EUA. E não há muito otimismo no mercado para uma mudança nas cotações no curto prazo.
“Por enquanto, avalio que o câmbio deverá ficar nessa faixa de R$ 5,15 a R$ 5,25, ou seja, avaliamos que aquele patamar de R$ 4,90 a R$ 5,00 ficou para trás com a nova realidade”, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
A nova realidade veio com a notícia, recebida com muito pessimismo pelos investidores, de que o governo federal reduziu a meta fiscal do ano que vem para um déficit zero, com uma margem de tolerância de 0,25% do PIB para mais ou menos.
A meta é diferente da que tinha sido estipulada no arcabouço fiscal aprovado no ano passado, que previa um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025.
Sem o cumprimento da meta este ano e já com uma mudança anunciada para a do ano que vem, o sentimento de ceticismo só aumenta quanto a capacidade do governo de cumprir com os números.
A revisão da meta fiscal por aqui, somada à situação do conflito entre Irã e Israel, e às incertezas sobre os cortes de juros na economia americana devido à inflação mais resistente por lá, resultou na atual disparada da moeda americana.
Para André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), todos esses fatores geram muita volatilidade no câmbio, mas não seria o caso ainda de definir um novo patamar para o dólar.
“Tudo que acontece assim, com muita rapidez e intensidade, não costuma ser um fenômeno duradouro. Eu não estou dizendo que o dólar vai voltar aos patamares de R$4,80 muito rapidamente, mas ele não vai estabilizar nos R$ 5,30”.
Um ponto preocupante no momento, segundo André, é o tempo que vai levar para que o mercado consiga digerir esses fatores de risco, porque quanto mais tempo o câmbio continuar nesse patamar, em aceleração, maior é o contágio para a inflação.
“A economia não para, existem transações acontecendo em tempo real e à medida que essas transações vão sendo firmadas a um câmbio bem desvalorizado, isso também tende a implicar nos fatores produtivos. O aumento de custos de produção, significa aumento dos preços e, com isso, da inflação”, explica Braz.
Fonte: CNN Brasil