IPCA: o que o estouro da meta da inflação em 2024 significa para 2025

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal medida de inflação do Brasil, encerrou 2024 em 4,83%, acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo Banco Central. O número foi divulgado nesta sexta-feira (10), sendo a oitava vez que houve o descumprimento desde 1999. A alta em dezembro, de 0,52%, embora ligeiramente abaixo do esperado pelo mercado, consolidou a tendência de aceleração nos preços de bens e serviços ao longo do ano.

Quanto aos impactos no mercado, as últimas declarações do Banco Central, tanto na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) anterior quanto no relatório trimestral de inflação, segundo o estrategista de investimentos, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, Marcelo Bolzan, já indicavam que a inflação ficaria acima do limite superior da meta. “O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, vai ter que explicar, vai ter que fazer uma carta oficial para o Congresso explicando por que os preços ficaram fora desse objetivo que o Banco Central tem”, diz.

A desvalorização do real, que acumulou queda de 27,36% em relação ao dólar em 2024, foi apontada como um dos principais fatores que impulsionaram os preços. A valorização da moeda norte-americana encarece insumos e produtos importados, afetando tanto o consumidor quanto a indústria nacional, explicam os especialistas. Além disso, a inflação nos serviços, especialmente aqueles sensíveis à política monetária, como alimentação fora do lar e transporte, reforça a preocupação com a capacidade de controle dos preços em 2025.

Economistas de grandes instituições financeiras já projetam que o IPCA de 2025 fique novamente acima do teto da meta, que será de 4,5% no próximo ano.

A partir deste ano, passa a valer um novo sistema de meta contínua, com centro de 3%, apurada com base na inflação acumulada em 12 meses. Se ela ficar acima ou abaixo do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%) por seis meses consecutivos, considera-se que o alvo foi perdido. Nesse caso, também caberá ao BC divulgar as razões para o descumprimento, as providências e o prazo para a convergência, também por meio de carta aberta.

A XP Investimentos, por exemplo, prevê uma inflação acumulada de 6,1%, enquanto o Bradesco BBI projeta 5,8%.

O Itaú BBA, embora mais conservador, também trabalha com projeções superiores à meta. Os principais fatores para essas previsões incluem a continuidade da desvalorização cambial, o aumento dos custos de produção e a demanda interna aquecida. “No geral, a inflação núcleo permanece sob pressão e dificilmente apresentará alívio nas próximas divulgações”, afirma o BBA em relatório.

Especialistas ouvidos pela agência de notícias Reuters projetam que, em 2025, o IPCA pode ultrapassar 6% devido à pressão contínua do mercado de trabalho aquecido e do aumento da demanda interna. A inflação de serviços, que foi um problema em 2024, deve continuar a pressionar o índice, com aumentos sazonais como os de educação e reajustes no custo de vida em um ambiente econômico ainda aquecido.


 

Sem trégua

Preços de alimentos como café, açúcar e proteínas devem seguir altos, e o impacto nos preços no atacado deve se refletir no consumidor já nos primeiros meses de 2025, mantendo a inflação acima da meta, conforme Igor Cadilhac, economista do PicPay. A projeção para janeiro já sinaliza um impacto imediato, com altas previstas nos preços de produtos básicos como hortifrútis e carnes. Essa dinâmica, somada à pressão sobre serviços básicos e bens industriais, tende a manter a inflação elevada.

“Os fundamentos econômicos ainda apontam para uma aceleração dessa inflação no curto prazo, ao longo dos próximos trimestres. A gente vê uma demanda doméstica ainda bastante firme e também a depreciação cambial recente deve fazer efeito para essa aceleração do IPCA, junto com as expectativas em alta”, diz Alexandre Maluf, economista da XP.

Diante desse cenário, o Banco Central iniciou um novo ciclo de alta da taxa Selic, que terminou 2024 em 12,25% ao ano, com previsão de elevação para 14,25% até março. O objetivo é conter a escalada dos preços, especialmente em itens como serviços intensivos em mão de obra e produtos industrializados, cujos custos têm sido diretamente impactados pela desvalorização cambial.

No entanto, analistas alertam que a política monetária enfrenta limitações, especialmente em um contexto de expectativas inflacionárias desancoradas e percepção de risco fiscal. A condução das contas públicas será importante para evitar uma espiral de aumentos de preços, já que o mercado segue atento às ações do governo em relação ao controle de gastos e à trajetória da dívida pública.

Cadilhac explica que a inflação persistente pesa diretamente no bolso do consumidor, que vê seu poder de compra reduzir-se à medida que os preços de itens essenciais, como alimentos e transporte, aumentam. Setores como o varejo e a indústria também sofrem com custos mais altos e menor capacidade de repasse, enquanto as empresas dependentes de insumos importados enfrentam margens de lucro reduzidas.

A continuidade desse cenário inflacionário pode levar a ajustes ainda mais severos na economia em 2025, com reflexos no crescimento econômico, na geração de empregos e na renda disponível das famílias. Para o Banco Central, a tarefa de reancorar as expectativas inflacionárias e trazer a inflação de volta para dentro da meta será decisiva nos próximos meses.


 

 

Fonte: infomoney